A Quaresma na casa de Pai José

A Umbanda é uma religião diversa e plural, formada por diferentes escolas e tradições, portanto o que vou dizer aqui não é regra mas minha visão segundo a escola umbandista de Pai José de Aruanda. 

Quando falamos sobre a Quaresma, é essencial lembrar que essa prática litúrgica pertence ao catolicismo e não à Umbanda. No entanto, ao longo do tempo, muitos umbandistas passaram a questionar se esse período exige algum cuidado especial dentro dos terreiros.

A Quaresma, como o próprio nome sugere, é um período de 40 dias que se inicia na quarta-feira de cinzas e se encerra no domingo de Páscoa. No catolicismo, sua finalidade é preparar o fiel para a ressurreição de Cristo, promovendo reflexões, penitências e práticas de renúncia para fortalecer o espírito contra as influências mundanas.

Dessa forma, respeitamos essa tradição religiosa, mas compreendemos que ela não faz parte da liturgia umbandista. Mesmo assim, a crença de que esse período é mais perigoso espiritualmente ganhou força em muitos terreiros, sendo comum ouvirmos que as entidades trevosas "ficam soltas" e que a atuação dos espíritos obsessores aumenta durante a Quaresma.

Mas de onde vem essa ideia? No passado, muitos terreiros fechavam suas portas nesse período. e alguns ainda o fazem. A interrupção dos trabalhos espirituais, que têm justamente a função de amparar, curar e combater energias negativas, poderia de fato gerar um ambiente mais propício para obsessores e espíritos perturbados. Mas a pergunta principal é: por que os terreiros fechavam na Quaresma?

A explicação mais plausível está na forte influência do catolicismo na formação de muitos sacerdotes umbandistas das gerações anteriores. Muitos foram criados dentro da fé católica e, ao se tornarem dirigentes espirituais, acabaram incorporando à Umbanda conceitos próprios do catolicismo. Além disso, o simples hábito de seguir tradições sem questionamento fez com que algumas casas continuassem a fechar suas portas nesse período, apenas porque "sempre foi assim".

No entanto, é fundamental compreender que a Umbanda, apesar de ser uma religião cristã, não é católica. O catolicismo é uma vertente do cristianismo, assim como o protestantismo, o espiritismo e a própria Umbanda. Assim, não há razão para que todos os cristãos sigam as mesmas práticas impostas pela Igreja Católica. Os terreiros de Umbanda, ao contrário, devem estar abertos para receber aqueles que necessitam de auxílio espiritual, pois o sofrimento e as demandas da vida não tiram folga na Quaresma.

Jesus jamais estabeleceu esse período de penitência, tampouco determinou que não se deveria comer carne vermelha na Sexta-feira Santa, na verdade, essa data nem existia enquanto ele esteve entre nós. Portanto, a melhor forma de honrar seu legado é praticando aquilo que ele realmente ensinou: o amor ao próximo, a caridade e o auxílio aos que sofrem. E isso deve ser feito todos os dias, independentemente do calendário litúrgico de qualquer outra fé.