Xangô, São Jerônimo e o Leão
Por: Paulo Makyama
Conheça um dos motivos do sincretismo do santo com o orixá Xangô.
Segundo conta a lenda, uma tarde, no lugar onde vivia, São Jerônimo se deparou com um leão que vinha andando com três patas, uma pata levantada. Porém, enquanto os demais se desesperaram ao avistar o leão, São Jerônimo calmamente levantou-se e foi até o leão, que estendeu-lhe sua pata, ferida com espinhos.
Então São Jerônimo cuidou do ferimento do leão até que este se recuperasse, e a gentileza do cuidado fez com que o leão se tornasse manso, acompanhando São Jerônimo como se fosse um animal de estimação e servindo como protetor dos bens daquele lugar. Eis o porquê de, em suas imagens e representações, o tradutor da Vulgata ser ladeado por um leão, calmamente deitado aos seus pés.
Assim, não é difícil entender o porquê de os negros africanos trazidos para o Brasil associarem sua figura ao orixá Xangô - Além de o leão ser um símbolo de realeza para os iorubás, o que tornaria o santo digno de ser sincretizado com o grande orixá rei de Oyó, uma das cidades mais importantes à sua época, na região onde hoje se encontra a Nigéria. Além disso, São Jerônimo é representado no alto de uma pedreira, local onde buscou exílio, segurando uma pedra, a qual usava como penitência quando tinha pensamentos impuros.
Ambos os elementos fazem alusão ao orixá do Trovão, pois um de seus pontos de força na natureza são as cachoeiras e pedreiras, e além do fogo, seu elemento também é a pedra, pedra essa que só Ele Próprio é capaz de quebrar, especialmente uma pedra de nome Edun Ará, que Pierre Verger descreve como machados neolíticos que, acredita-se, podem ser encontrados no local onde uma casa foi atingida por um raio, indício da cólera do orixá, pelo qual os donos da casa devem pagar altas multas aos sacerdotes de Xangô.
Oba l'Axé Kawô! Kabiyèsilé Xangô! Salve Xangô, viva o advogado dos pobres!