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Xocotô Berulô!

Xocotô Berulô!

A Oração de Obaluayê

Sincretizado com São Roque e São Lázaro, o mês de Agosto geralmente é o mês em que os terreiros de Umbanda e Candomblé rendem suas devoções ao Senhor da Terra. 
 
É quando acontece o Olúgbàjẹ, a homenagem ao Orixá da Varíola. Olúgbàjẹ é um termo iorubá que significa "o Senhor Aceitou Comer", fazendo uma alusão a uma passagem das lendas do Orixá em que este, após alguns conflitos, aceita a oferenda de comidas votivas, como o Doburú, Eran Paterê, Ewa Dudu, Aberém, etc.
 
A origem do ritual, segundo algumas versões do mito, é de quando Obaluayê se desentendeu com Xangô, e por isso se isolou, somente retornando após todos os filhos de Orixá lhe servirem comida como oferendas em desagravo; outras versões recontam que foi Oxum a responsável por trazer Obaluayê de volta com seus dotes culinários. A única certeza é a de que a tradição do "Banquete do Rei" persiste até os dias de hoje, e todos que comungam e participam dessa homenagem têm assegurada para si a proteção de Obaluayê.
 
Uma particularidade desta festa está na decoração do terreiro - para o Olubajé, o terreiro é enfeitado com fios de pipoca, também chamada de "flor de Obaluayê", que segundo a lenda, surgiu das feridas de Obaluayê por obra de Iansã. Ao longo dos meses que antecedem a Homenagem, os filhos de santo e assistência confeccionam os fios, imbuindo neles seu pedido e sua devoção ao Orixá.
 
Para o preparo correto das pipocas, seja para os fios de pipoca ou para o Doburú, oferenda votiva de Obaluayê feita com pipoca e lascas de coco regadas com azeite de dendê, é necessário cumprir requisitos específicos - a pipoca deve ser estourada em areia de praia ou então sem óleo, azeite de dendê, sal ou qualquer outro elemento. Durante o preparo, rezamos a seguinte oração:
 
"Ọbaluwàiyé, Sakpata, Toto Hun Jagun!
(Pronúncia: Obaluaê, Sapatá, totô rum djagún!)
Resp.: Atotó!"
(Atotô!)
 
Oniluwàiyé, Sakpata, Ṣaponà, Ọmọlu, toto hun Jagun!"
(Pron.: Oniluaê, Sapatá, Xapanã, Omolu, toto rum djagún!)
 
Atotó ajubèrú, Opanijé, Olúgbàjẹ.
(Pron.: Atotô Adjuberú Opanidjé Olubadjé)
 
Atotó Bàbá Igbonọn!
(Pron.: Atotô Babá Ibonã)
 
Saravá o Pai da Quentura, aquele que come e consome,
 
O grande calor do Sol.
Resp.: Atotó!
 
Xocotô Berulô as doenças! - Resp.: Xocotô!
 
Xocotô Berulô as doenças! - Resp.: Xocotô!
 
Xocotô Berulô as doenças! - Resp.: Xocotô!
 
Xocotô Berulô tudo que não for de Zambi, Xocotô Berulô!!
 
Resp.: Xocotô!
 
Nas primeiras duas frases, a oração traz vários nomes do Orixá das Doenças Contagiosas, como Sapatá, nome da divindade no Daomé, tido como seu lugar de origem, e Xapanã, nome que nos Candomblés não se pronuncia, sob o risco de irritar o Orixá.
 
Ambas as frases se encerram com uma saudação ao Orixá, "Toto run, Atotô", ordem que significa "respeito, silêncio!" Na segunda frase, ainda temos o termo Oniluwaiyé, composto pelas palavras "Onilu", senhor da terra, e "Àiyé", o mundo dos homens, ou ainda, "Oni Ilu Àiyé", Senhor da Vida na Terra.
 
Em seguida, temos uma saudação típica do Orixá, Atotó A jìí bèrú (Silêncio! Nós acordamos com Medo!"), Opanijé (título que significa "Ele mata e come", nome do toque a Obaluayê) Olubajé (O Rei aceitou comer), e por fim, o último título do Orixá, Babá Igbonã, Pai da Quentura, referência ao intenso calor da febre causada pela Varíola, extrapolado no momento em que se menciona que o Orixá é "O Grande Calor do Sol".
 
Fechando a oração, temos uma frase composta em Iorubá e em Português, "Xocotô Berulô as Doenças" - O Xocotô (do iorubá Ṣòkòtò, calças) é um tipo de calça usada pelo Orixá Obaluayê, sob o qual acredita-se estar oculto, o mistério da morte e do renascimento. 
 
“Berulô” é uma aglutinação das palavras “gbe eru nlọ” – “gbe” significa “socorrer, salvar, levantar”, eru significa “peso”, “fardo”, e “nlọ” é uma palavra que expressa “partida, ir embora”.  
 
Assim, pode-se entender Xocotô Berulô como “O Xocotô salva/socorre, o fardo é levado embora”, e a frase completa como "O Xocotô leva embora o sofrimento causado pelas doenças", relembrando o adepto do Culto a Orixá de que para Obaluayê, deve-se sempre pedir que ele leve a doença embora, e nunca que ele traga a Cura, pois Ele, enquanto Orixá das Doenças, não tem o poder de curar, mas sim de afastar do doente a sua enfermidade.
 
Atotó Ọbaluwàiyé Akosì-Sakpata Toto run Jagun! Atotó A jìí bèrú!
 

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