Laróyè Èṣù Ọnọn!
Salve o Senhor dos Caminhos
O primeiro trabalho de cada mês tem um significativo especial para os filhos de santo do Barracão de Pai José de Aruanda.
É o momento de agradecer pelas conquistas do dia-a-dia, por todas as tentativas bem-sucedidas, pelos males evitados ou superados, e principalmente pela proteção a cada trabalho espiritual desenvolvido no mês anterior em nossa Comunidade-terreiro. É também o momento de renovar os pedidos para que o mês que se abre traga coisas muito melhores, novos desafios, novas oportunidades e fôlego renovado para enfrentar as tribulações do cotidiano.
E a forma com que os Filhos de Santo do Barracão simbolizam esse agradecimento e fazem os pedidos pelo mês vindouro se dá por meio de uma extensão do ritual do Padê, determinada pelo Pai José em todo primeiro trabalho, no qual toda a Corrente Mediúnica acompanha as Mães de Santo na entrega do Padê, de mãos dadas, e ao som do Adejá, seguida da saudação que o Pai de Santo pronuncia, todos batem o Paô (do Yorùbá pa òwó, palma), sequência ritmada de palmas que tem por objetivo saudar Exu (ou o Orixá sendo saudado) e atrair a atenção dos Encarnados, Desencarnados e dos Orixás para o ritual que está sendo realizado.
Pàwó Èṣù, Mo júbà, Mo júbà, Mo júbà re!
(Salve Exu, meus respeitos, meus respeitos, meus respeitos a Ti!)
Em seguida, ainda de mãos dadas, os Filhos de Santo retornam ao Congá, e, uma vez que todos estejam de volta, o Pai de Santo entoa um Ponto Cantado em Iorubá, saudando Exu Onã, o Exu dos Caminhos:
Èṣù Ọnọn, Èṣù Ọnọn
Mo jí re lọde Elegbàra
Bárà mi rè
Èṣù Ọnọn ké wa o (2x)
Nesta primeira parte do Ponto, rogamos pela presença de Exu Onã em nosso rito, em nosso Casa de Axé:
“Exu dos Caminhos, Exu dos Caminhos
Eu o acordo do lado de fora, Senhor do Poder
Meu Senhor do Corpo, pode passar
Exu dos Caminhos, cuide bem de nós”
O Ponto faz referência ao fundamento de Exu de que ele, o mensageiro, o guardião por excelência, é sempre cultuado do lado externo dos terreiros e das casas, pois há um itã que conta que Exu escolhe o lado de fora, não o de dentro, para ser sua eterna morada. Fato é que seu legítimo ponto de firmeza e local de Culto, a Canjira, também conhecida como Tronqueira ou Casinha de Exu, no qual por extensão todos os Exus, Pombagiras e Exu-Mirins dos adeptos, legítimos representantes da vibração do Orixá Exu, cuidam da defesa e proteção dos trabalhos, localiza-se sempre em local externo, próximo à entrada do terreiro.
O título “Elegbàra”, Senhor do Poder, reafirma a posição de Exu como Orixá dotado de características excepcionais dignas de respeito, enquanto a alcunha Bárà, Senhor do Corpo, faz alusão à ligação de Exu com a terra, o Mundo dos Homens (Àiyé), bem como à sexualidade e fertilidade masculina, seus domínios.
Ao afirmar que “meu Senhor do Corpo pode passar”, o ponto cumpre o papel de autorizar Exu Onã, ratificar o pedido de que Ele intervenha favoravelmente, da maneira que for necessária, para “abrir os caminhos” de seu devoto.
Na Umbanda, essa autorização é essencial, já que entende-se que nada pode ser feito, seja pelo Orixá ou pelo Guia de Luz, sem que primeiro o devoto sinalize sua autorização, quer seja por meio de uma vela, uma oferenda, ou uma rogativa, como é o caso, já que o Livre-Arbítrio deve ser respeitado a todo custo, segundo a Lei Divina. E, após a permissão dada, pede-se que Exu Onã cuide bem de nós, da nossa Comunidade (Èṣù Ọnọn, ké wa o).
Em seguida, o ponto continua:
Bárà Ọnọn nbọ
Èṣù ta f’àrá t’Ilé, Èṣù
Bárà Ọnọn nbọ
Èṣù ta f’àrá t’Ilé Èṣù
“O Senhor do Corpo e dos Caminhos está chegando
Exu produz alimento para as pessoas da Casa (Ilê), ó Exu
O Senhor do Corpo e dos Caminhos está chegando
Exu produz alimento para as pessoas da Casa (Ilê), ó Exu”
Esta segunda parte tem caráter laudatório, isto é, tem a intenção de exaltar as qualidades e as benesses que Exu propicia à humanidade.
Ela afirma que o Senhor do Corpo, que também é o Senhor dos Caminhos, atendeu ao pedido coletivo feito e se fará presente (Bárà Ọnọn nbọ), e que, ao fazer isso, Ele trará Prosperidade e Sustento para os adeptos do Culto a Orixá, pois ele produz alimento para as pessoas da Casa (Èṣù ta f’àrá t’Ilé), isto é, para todos os membros daquela Comunidade-terreiro que cumprirem seus preceitos rituais, quer seja esse alimento para o Corpo (ara) ou para a Alma (èmí).
Atualmente, adaptamos essa saudação coletiva, sendo que ela ocorre dentro do próprio Congá, momento em que todos se ajoelham diante do Padê e batem o paô, que é em seguida levado pelas Mães de Santo ou, na ausência delas, de filhas mais velhas de Casa.
Vale ressaltar que esta saudação a Exu no começo do mês é específica da ritualística do Barracão, podendo ocorrer de maneira diferente em outras Casas, conforme as diferentes Escolas Umbandistas existentes.